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Recuperação Judicial

Braile entra com pedido de recuperação judicial

Com uma dívida de aproximadamente R$ 23 milhões, a Braile Biomédica, empresa de tecnologia médica de Rio Preto, especializada em dispositivos voltados para cirurgias cardíacas, entrou com pedido de recuperação judicial, na última semana. Segundo a ação, 90% do total é oriundo de crédito com instituições bancárias.

A empresa justifica o endividamento por crédito como um resultado de problemas enfrentados no mercado, como aumento nos custos de produção; congelamento da tabela de preços no Sistema Único de Saúde (SUS), principal cliente da empresa; e pela dificuldade de recebimento de suas vendas por atrasos de pagamentos do SUS e repasses dos hospitais.

De acordo com o documento, aproximadamente 65% da produção da Braile é destinada ao atendimento de licitações ao SUS, o que a empresa credita como a principal causa de sua crise financeira. Segundo o processo, a tabela que serve como base para a precificação do SUS está congelada há 14 anos, sendo que a última atualização de preços ocorreu em 2001.

“Neste período de congelamento de preços (14 anos), a inflação subiu em 160%, o custo da mão de obra em 170% e o dólar em 70%, fatores esses que eleva m o custo de produção e dos insumos nacionais e importados, praticamente inviabilizando a sua produção”, afirma o advogado da Braile, Marcelo Hajaj Merlino, na ação.

Como exemplo, a empresa aponta a válvula cardíaca de pericárdio bovino, um de seus principais produtos. Segundo o grupo, o SUS paga por essa válvula o valor de R$ 937,93 a 14 anos, sem reajustes. Caso fosse aplicada apenas a inflação do período, o valor atualizado da válvula seria de R$ 2.532,41. Além da falta de reajuste, a empresa também afirma que o SUS tem atrasado no pagamento dos produtos adquiridos.

Atualmente, o Sistema Único de Saúde estaria devendo R$ 7 milhões, valor que representa, segundo a ação, quase dois meses de faturamento da empresa. Outra justificativa usada para a crise é a concorrência internacional que, além de não sofrer com os elevados custos de produção brasileiros, exporta para o Brasil com alíquota zero e teria o apoio de clínicas e hospitais particulares.

Com dívidas crescentes, então, a empresa recorreu às instituições financeiras em busca de crédito, para financiar a continuidade das operações da empresa. No entanto, a cada novo pedido, o crédito ficou mais caro, com aumentos mensais das taxas de juros sob a justificativa de aumento no risco. Ao pedir a recuperação, a Braile espera evitar a paralisação das atividades e, consequentemente, a demissão em massa.

O pedido de recuperação será analisado pelo juiz Paulo Sérgio Romero Vicente Rodrigues, da 4ª Vara Cível de Rio Preto. O advogado da empresa, Marcelo Hajaj Merlino, foi procurado, mas até o começo da noite desta terça-feira, 7, não se pronunciou. A Braile Biomédica não quis comentar o assunto e o juiz não se manifestou.

Braile tem 324 funcionários

A Braile Biomédica foi fundada em Rio Preto em 1977, pelo cirurgião cardiovascular Domingo Braile, e desde então se tornou referência na produção de próteses biomédicas, em especial de aparelhos ligados à cirurgia cardíaca. Entre seus principais produtos, atualmente, estão próteses e válvulas cardíacas, sistemas de oxigenação do sangue para cirurgias e até sistemas para tratamento oncológico.

No País, ela se destaca como uma das únicas no mercado a produzir esses componentes, normalmente competindo apenas com uma ou duas empresas de todo o mundo. A prótese valvular orgânica da Braile, que pode ser feita a partir do pericárdio bovino – uma membrana que envolve o coração do boi – ou a partir da válvula do coração suíno, é referência.

A empresa produz aproximadamente 800 válvulas por mês e todas são feitas de maneira quase artesanal. É um trabalho manual complexo. Atualmente, a empresa conta com 324 funcionários diretos. A Braile, inclusive, venceu pelo terceiro ano consecutivo, em 2014, o prêmio de inovação da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), concedido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, como a empresa de médio porte mais inovadora do País.


Matéria publicado no Jornal Diário da Região de São José do Rio Preto com a colaboração de Claudenir Pigão Michéias Alves.